Um dos melhores professores que tive na vida, daqueles que nos marcam para sempre, era fascinado pelo Japão, os japoneses e coisas correlatas. Recorrentemente, ele contava a mesma anedota para provar que o pessoal da Terra do Sol Nascente era mais evoluído do que todo o restante da população mundial. Se a memória não me trai, a história era mais ou menos a seguinte:
Um cientista norte-americano jurava ter criado o menor cabo do mundo, mas fino do que o mais fino dos fios de cabelo. Para provar que aquele era o mais fino dos condutores de energia do mundo, ele mandou para um amigo japonês a peça para que o mesmo certifcasse e admirasse a sua criação. Meses depois, o japonês devolveu o cabo junto com uma carta onde pedia para o norte-americano verificar o material no microscópio. Quando fez isso, o ianque percebeu que seu cabo estava com um furo no meio.
Lembrei dessa história recentemente, pois o que fascinava esse professor era a habilidade de compactação que ele afirmava que os japoneses tinham. Diversas vezes ele falava, com admiração, que boa parte da população de Tóquio vivia em apartamentos pequeniníssimos e que a vantagem disso era que tudo sempre estava perto, fora a facilidade para organizar e manter limpo o imóvel de minúsculos metros quadrados.
Visitei um apartamento desses semanas atrás e nem precisei me deslocar até o outro lado do mundo. Andei uns 20 minutos da minha casa até a Rua da Consolação para conhecer um desses empreendimentos. Atravessei um corredor de corretores dos mais diferentes perfis e fui jogado dentro de um apartamento de simulação, chamado também como imóvel decorado, segundo o panfleto entregue para os que passam pelas calçadas.
Dezoito metros quadrados. Um quarto e um banheiro. Tudo milimetricamente pensado. Inclusive uma engenhoca com um buraco no teto feito para esconder a TV que fica pendurada enquanto o guarda-roupa está fechado. Caso precise abrir a porta do armário, é necessário encaixar o aparelho televisor no espaço reservado acima das cabeças.
Já fiquei em quartos de hotéis bem maiores. Certa vez, devido a um prêmio jornalístico que vim receber em São Paulo quando nem aqui morava, a Camargo Corrêa me colocou em um hotel em frente a sua sede onde moraria fácil com o meu cachorro. O jornalismo também já me levou para o outro extremo. Uma hospedaria nas brenhas do Sertão pernambucano, onde tive o luxo de ficar na suíte em que os joelhos tocavam a parede todas as vezes em que eu me sentava na privada.
Esse texto não é sobre o Japão, nem sobre a sanha capitalista da especulação imobiliária, mas sobre coisas pequenas. O extraordinariamente insignificante, mas que toma conta dos nossos pensamentos durantes horas, dias, anos e eternidade. Histórias curtas, lugares mínimos que por motivos desconhecidos permanecem no inconsciente e de uma hora para outra, sem nos avisar, emerge da nossa memória e vem à tona sem que nos demos conta.
Agradeço a Dona Isabel, minha terapeuta, a quem voltei às lágrimas nas últimas semanas e que seu consultório é vizinho ao futuro prédio de apartamentos mínimos que visitei. Estamos trabalhando nas coisas pequenas que tem aqui dentro da minha cachola. Ainda não sei se é um problema, mas o amontoado de coisas pequenas viram uma coisa enorme. Viva e vivamos a pequenez da vida.
E o livro?
Reclamem com a Vitória. Como na imagem acima mostra, a promessa era para que hoje já estivesse com os livros em mãos. Mas sabe como é… pedidos, prazos, e etcetera e tal. Em breve terei que apelar para os ansiolíticos para conter a ansiedade de ter o livro em mãos. Permaneço no mantra do “está mais perto do que longe” para conter esse faniquito.
Quem nunca teve um prazo estendido por um prestador de serviço nesse nosso Brasil varonil? Não que eu concorde, inclusive sou uma pessoa chatíssima em relação a atrasos e qualquer dia escreverei sobre isso por aqui. Mas uma coisa que aprendi durante 41 anos pisando nesse chão é que não vale a pena sofrer por coisas que estão fora do nosso controle.
Fiz o pedido no dia 29 do mês passado e uma das propagandas da gráfica é que recentemente eles tinham diminuído o tempo de produção dos pedidos. O que antes demorava 20 dias úteis, tinham regredido para apenas 12. Façam as contas. Pelas minhas, o prazo acabou ontem. Na deles, termina hoje. Ainda bem que eles são uma gráfica e não uma empresa de comunicação, porque olha…
O despertar da ansiedade e da dúvida explodiu na semana passada. Recebi um email da transportadora, que vai trazer as caixas de livros aqui em casa avisando que o meu pedido estava em processo de separação e que, assim que esteve em cima do caminhão em direção ao Campos Elíseos, eu receberia outra mensagem eletrônica. Agora vai saber o porquê a transportadora fez esse aviso antes da gráfica terminar de produzir os livros. Na minha cabeça desmiolada, o caminhão está com o motor ligado e a caçamba aberta desde a semana passada, com o motorista está mais puto do que eu esperando a hora de sair.
O que posso fazer? Colocar fogo na gráfica em retaliação? Resta esperar. Só rogo aos céus que o livro chegue até o Dois de Julho. Não o gracioso bairro da região central soteropolitana, mas a data que se avizinha neste ano da graça de 2025. Foi essa a data que o querido Júlio reservou no Pratododia para o lançamento do livro. Vai ser uma noite de quarta-feira. Espero que não faça o fio que é comum nessa época do ano na Barra Funda.
A data está mantida e vocês, leitores desta newsletter, estão sabendo em primeira mão. Além do meu livro, vai ter os meus amados Don Magrones e Obi Ori nas picapes botando o povo para chacoalhar. Apareçam para me dar um abraço, nem precisa comprar o livro. Mas se quiser, me fará bem feliz.